terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Chaveiro de coquinho


Ela furiosa.

Ele pergunta: _E então?

_E então o quê?

_Quero saber como vamos fazer com as nossas coisas...

_Agora não existe ‘nossas’ coisas. Existe as MINHAS e as SUAS coisas.

_ Tah... Mas...

_Mas nada! Separei o que é seu e deixei no quartinho de serviço.

Ele caminha até aquele cômodo repugnante e encontra um disco do Ringo Starr.

_Mas eu só encontrei meu disco favorito!? Onde está o restante das coisas?

_Não tem mais nada. O disco foi a única coisa que você comprou

com seu dinheiro.

_Isso não é justo!

_Ah! Não é justo? (aos gritos) EU te tirei da 'pindaíba' depois do golpe que levou da sua antiga namorada! Aquela mocréia te roubou tudo e eu reconstruí sua vida! EU! EU me matei de trabalhar pra te dar conforto! E você me paga com o que mesmo? TRAIÇÃO! Você me traiu e ainda não acha justo??

_Eu disse que foi apenas uma coisa de momento! (e chora)

_Ah! E tem isso aqui também! (joga um objeto em direção a ele)

_Mas esse foi o chaveiro que te dei quando voltei de Manaus!

_É seu! Foi você quem comprou! Aliás, odeio objetos de coquinho! Eles fedem! Não quero NADA que venha de você! Suma daqui!

_Tah... mas não faz isso! É muito importante que você fique com ele.

_Anda! Some você e esse presente tosco!

_Tah... to indo. (lágrimas)

Ele pára na frente do elevador e pensa em tudo que aconteceu. Anda pelo hall do prédio, olha no espelho, chega até a porta e desce o degrau...

Vai até a praça e deita no banquinho por um tempo. Olha pro chaveiro de coquinho e lembra do momento em que o comprou. Os únicos centavos que restaram da viagem. Era como se fosse uma ferida de queimadura tocada. Levanta, anda até a linha do trem e deita ao lado do disco de Ringo Starr. Segura forte o chaveiro de coquinho.

O trem passa.

Adriane Assis


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