segunda-feira, 12 de julho de 2010

Conto de amor e inveja

Eu tinha por mim que tudo seria para sempre...
Desde o primeiro dia de aula já estava fascinada por aquele olhar.
Infelizmente ele tinha namorada. E eu tinha inveja dela. Estava estampado na cara dele. Eu o desejava muito, e mesmo sabendo o quanto aquilo era errado, eu não conseguia me afastar. Ficava triste todas as vezes que ele chegava sorrindo por causa dela. Rezei durante todos os intervalos para que ela não fosse vê-lo, e para que ele não saísse do meu lado. Mudei de carteira tantas vezes, até que consegui me aproximar, mais e mais. Ia em todos os encontros dos colegas da sala, na esperança tenra de que ele sentasse ao meu lado. Procurei me informar sobre ele; das coisas que ele gostava eu sabia de cór. Esperava ansiosamente para encontrá-lo. Aos poucos fui tomando um espaço. Fazíamos trabalhos juntos e tinha liberdade de ligar, chamá-lo para sair. Eu o provocava, ingenuamente. Eu não queria atrapalhar o namoro dele, mas sabia o que estava fazendo. O queria pra mim. Só pra mim. Quando percebi, ele já não chegava mais com aquele sorriso no rosto. Rezei tanto que ela quase não aparecia mais para vê-lo. Fui tomando espaço. Acertava toda vez que a namorada falhava. Aliás, eu fazia com que ela falhasse. Eu a provocava. Era um jogo delicioso vê-lo se aproximar. Então eu acostumei com a idéia. Não me importava se magoaria a namorada dele. O importante naquele momento era tê-lo. Fiz a cabeça dele, e ele terminou com ela. Acompanhei a vida da então 'ex' por um tempo. Certifiquei-me que ninguém, muito menos ela estaria na perto dele. Eu ingênua e doce. Cheia de amor e carinho para dar. Ele triste, carente e solteiro. A situação convidava. Ficamos. Meu coração batia forte toda vez que nos víamos. Saíamos, conversávamos. A intimidade aumentava. Meu amor também.
Comemorávamos todo aniversário de... De que? Eu não sabia. Não era namorada. Eu era... sei lá. Ficante fixa talvez. Nem sabia se ele estava só comigo. Afinal, ele mentiu muitas vezes pra ela, na intenção de estar comigo. Podia mentir pra mim também. Azar. Eu estava apaixonada e isso bastava. Mas no fundo sabia que ele ainda, ás vezes ou quase toda noite lembrava dela. Tinha alguma coisa que o incomodava. E eu não entendia por que. Fazia tudo por ele. Me desdobrava em mil para conseguir cumprir minha rotina de escola, trabalho, curso, família, amigos e ainda ter tempo pra ele. Apresentei-o aos meus pais. Deixei que entrasse mais e mais em minha vida. Conheceu meus amigos. Conheci alguns dos amigos dele também. Trocamos presentes.
Continuei apaixonada. Continuei não sendo nada. Comecei a sentir ciúmes dela. Ciúmes da ex. E a inveja voltou também. Ela era linda, uma mulher. Eu era uma menina. Uma menina boba e apaixonada. Soube que depois dele, ela teve vários. Ela podia escolher. Hoje ela namora. Por que eu não? Comecei a questionar. Ela não precisou fazer o que eu fiz para conseguir o homem que desejou. Não destruiu nenhum namoro. Não destruiu nenhum 'possível futuro lar'. Ela tinha homens aos seus pés, um namorado apaixonado e ele. Não de corpo. Mas ele ainda pertencia a ela. Não sei se era amor. Algo ainda o ligava a ela. E por mais que eu me esforçasse, ainda não tinha conseguido ser o que ela foi para ele: namorada, desejo, paixão.

Levei a situação... Foi ai que me assustei. Passado dois anos e meio de relacionamento, próximo a data do nosso baile de formatura, mesmo nunca tendo me assumido de verdade, ele me pediu em casamento. Era para dali mais uns dois anos. E dessa vez tive quase certeza dos sentimentos dele por mim.

...
O buquê chegou. Meu vestido pronto. Eu estava linda. Usava flores do campo no cabelo.
...
As portas se abriram. Ele estava no altar. A igreja era pequena e tinha poucos convidados. Nada muito divulgado. Estava tudo do jeito que ele queria. Sem festa. Sem muita gente. Discreto.
Enquanto o padre falava, escutei passos de salto alto. Me virei devagar pra não criar movimentação da cabeça de mais ninguém. Vi um corpo de belas curvas em um vestido vermelho, pouco acima do joelho. Aquela mulher continuava linda. Estava parada no corredor da igreja e me sorria sexy e sarcasticamente, sem soltar um ruído sequer. Ele percebeu o quanto fiquei atônita e se virou. Seu olhar brilhou daquele jeito; dos tempos de faculdade. Estava hipnotizo e embasbacado. Moveu-se em direção a ela.
Saíram da igreja os dois; (ela um pouco mais a frente) e antes que desaparecessem pela porta, me passou um último olhar e sorriu novamente, como se quisesse dizer: _Estou levando o que me tirou e é meu por direito.
E a igreja ficou enorme. Minha vergonha e tristeza também. Sentei-me no altar e senti ser acolhida por meus familiares. Chorei.
E continuei sentindo inveja dela.


Adriane Assis

Um comentário:

O mundo da Reis disse...

Gostei daqui

seguindo *_*